Consumidor ou amante?
Certa vez, estava ouvindo a conversa entre dois homens. Um deles, que em breve seria pai de uma menina, dizia para o outro: “Quem diria! Eu que anteriormente era consumidor, agora vou virar fornecedor”. Essa conversa ocorreu muitos anos atrás, mas ficou gravada em minha mente. Como eu ainda era criança, demorei a entender o que aquele homem quis dizer. Pode parecer uma simples brincadeira, mas percebi que hoje em dia muitas pessoas estão se comportando como consumidores. Vou explicar melhor.
No que se refere a relacionamentos amorosos – e talvez a gente também possa extrapolar para todos os tipos de relacionamentos – existem dois tipos de pessoas: consumidores e amantes.
O primeiro é aquele que espera que o outro satisfaça alguma necessidade sua. Essa carência pode se constituir de várias coisas: gratificação sexual, necessidade de validação, carência afetiva, financeira, etc. Esse tipo de pessoa vê no outro a oportunidade de prazer e satisfação. Veja bem, não estou falando apenas da questão sexual, mas também de sujeitos que buscam suprir uma lacuna de amor. Por mais que talvez a intenção não seja se aproveitar sexualmente, esse indivíduo também suga o outro, desejando que proveja uma necessidade sua.
É importante dizer que o outro não tem obrigação de ficar suprindo nossas lacunas. Infelizmente, muitas músicas românticas e filmes passam uma mensagem extremamente prejudicial no que diz respeito aos relacionamentos amorosos: “preciso de você, pois sem você eu não sei viver”, “você me completa, sem você me sinto vazio”, “preciso de você para me ensinar a viver”, e por aí vai. É como se a felicidade residisse no outro, não em si mesmo: a expectativa é que o outro forneça a felicidade e bem estar desejados.
O grande problema desse tipo de mensagem é que nos incentiva a buscar em outra pessoa o que falta em nós, o que não fomos capazes de desenvolver ao longo da vida. Isso acaba colocando uma pressão sobre o outro, asfixiando o relacionamento.
Por outro lado, o amante – no sentido não pejorativo do termo, mas designado como alguém que ama – não procura uma pessoa para buscar algo, mas para oferecer. Apresenta segurança e está livre para amar. Seu foco é tornar a vida do outro melhor. Não mede esforços para tal, até mesmo fazendo sacrifícios para o bem estar dela. Afinal de contas, o amante pensa mais em satisfazer os desejos do outro e não os próprios.
A ideia é que entremos em uma relação inteiro, completo: você não deveria depender de outra pessoa pra deixá-lo feliz. Ficam os questionamentos: quem você é, consumidor ou amante? A pessoa com quem você tem se relacionado é uma consumidora ou uma amante?